Resultado solidifica ideia de que a atividade econômica está mais baixa que no ano passado, diz economista

As vendas do varejo brasileiro estão enfraquecidas neste ano, e novos dados indicam que o cenário seguiu ruim em maio. O Índice de Atividade Econômica Stone Varejo recuou 7,8% em maio na comparação com maio do ano passado, confirmando o cenário de uma atividade mais fraca no varejo em relação ao ano passado. Na comparação com abril, houve queda de 2,3%, na série dessazonalizada.

O índice – calculado com dados públicos da Receita Federal e dados transacionais de cartão dos clientes do grupo StoneCo – se manteve em maio em nível inferior ao registrado no ano passado e não apresenta sinais de melhora.

Matheus Calvelli, pesquisador econômico e cientista de dados da Stone, ressalta que até o resultado de maio era difícil separar os efeitos de eventos como Carnaval e feriados nos resultados do comércio varejista. Mas ele ressalta que os dados do mês passado solidificam a ideia de que a atividade econômica está mais baixa que no ano passado.

“E nossa expectativa é que isso vá se manter. Não necessariamente vai se manter nesse nível o ano inteiro, mas a expectativa é que passe a maior parte do ano pelo menos em níveis inferiores a 2022”, ressalta Calvelli. “Parece muito claro que o comércio varejista vai passar a maior parte do ano em níveis inferiores ao ano passado”, acrescenta.

Expectativa é que comércio varejista passe maior parte do ano em níveis inferiores a 2022

A queda registrada em maio foi puxada, na comparação com maio do ano passado, pelas baixas de 16,1% de tecidos, vestuário e calçados e de 14,2% de hipermercados e supermercados. O único avanço foi registrado por artigos farmacêuticos, que cresceram 2,6%.

Calvelli afirma que o setor de vestuário sofre este ano com a renda comprometida de boa parte dos consumidores, além de sofrer os efeitos dos juros altos. O recuo de maio é o terceiro seguido para o segmento e o economista da Stone destaca que houve apenas um mês positivo desde julho do ano passado.

“A questão toda do vestuário é que as pessoas estão com a renda comprometida e [nesses casos] o que você corta primeiro é o consumo que você não precisa imediatamente. E vestuário é o tipo de consumo que você pode jogar mais para frente”, afirma Calvelli, que acrescenta que os juros altos também terminam por encarecer o parcelamento da compra de artigos de vestuário.

No caso de hipermercados e supermercados, Calvelli destaca que há uma particularidade do índice da Stone, que analisa dados basicamente de pequenos e médios mercados de bairro, ficando de fora de grandes redes de supermercado. Ele ressalta que, em momentos como o atual, de juros altos e renda comprometida, os consumidores abrem mão da comodidade de comprar no mercadinho de bairro perto de casa e passam a buscar redes maiores com preços mais vantajosos.

“O pequeno e médio supermercado está sofrendo mais porque tem dificuldade de não repassar [a alta de preços]”, explica o economista.

Na mão contrária, o único segmento a apresentar alta em maio frente a igual período do ano passado foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, que subiu 2,6% no volume de vendas, depois de altas de 4,3% em abril em relação ao mesmo período de 2022 e de 11,1% em março ante igual mês do ano passado.

Calvelli destaca que o segmento acaba sendo o mais inelástico, dada a necessidade de compra de medicamentos relevantes para o consumidor. “Tem crise, mas não tem como reduzir consumo”, diz o economista, lembrando ainda que o crescimento do segmento este ano também pode estar ligado a uma base mais baixa no ano passado devido à pandemia.

Fonte:https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/06/13/vendas-do-varejo-recuaram-78-no-mes-passado-aponta-indicador.ghtml