Lista de boas notícias sem relação com ações do governo vai da queda da inflação e do dólar à supersafra agrícola, do crescimento do PIB ao elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas; saiba como elas favorecem o presidente

Nos primeiros seis meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode reclamar da sorte. Até agora, ele se beneficiou de vários fatores positivos na economia, que não têm relação direta com ações do governo e que ajudaram a conter os efeitos negativos dos juros altos, do elevado nível de endividamento das famílias e das dificuldades financeiras de setores do varejo e da indústria.

Além do quadro favorável na arena global, as boas notícias na economia interna se espalham por todos os lados: da queda da inflação e do dólar ao saldo comercial recorde e à supersafra agrícola, que puxa o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto); da geração de novas vagas de trabalho com carteira assinada ao elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas.

Confira a seguir nove fatores que estão melhorando o ambiente econômico do País e favorecendo Lula, independentemente do que ele fez até agora na Presidência (leia também a reportagem “Lula dá sorte com economia na largada, mas incertezas ainda pairam sobre percurso do governo”).

1. Recuo da inflação

Talvez nenhuma outra questão tenha beneficiado tanto Lula – sem que ele tenha dado qualquer contribuição para isso – quanto a queda da inflação. Graças, em boa medida, à autonomia do Banco Central (BC) e à política de juros altos praticada pela instituição, alvos permanentes de críticas do presidente, de seus ministros, do PT e de partidos aliados, a inflação vem cedendo de forma significativa e consistente desde o ano passado.

De acordo com o IBGE, o IPCA, que mede a inflação oficial, acumulou uma variação de 3,94% nos 12 meses encerrados em maio, depois de ter atingido um pico de 12,1% em abril do ano passado. A estimativa para o “ano cheio” é um pouco mais alta, de 5,1%, de acordo com o Relatório Focus, do BC, e deverá ser puxada principalmente pela alta dos preços da gasolina, sobre os quais voltaram a incidir tributos cortados no governo Bolsonaro, dos medicamentos, da alimentação fora de casa e de artigos de vestuário.

Se tal previsão for confirmada, o IPCA ainda ficará acima do centro da meta, de 3,25%, e mesmo de sua banda superior, de 4,75%, que inclui um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Mesmo assim, ainda será uma taxa mais comportada que a de 2022, de 5,8%. Para 2024 e 2025, as estimativas também vêm caindo e estão hoje em 4% e 3,8%, respectivamente, segundo o Focus.

“Ninguém gosta de juro alto, mas a verdade é que funciona”, diz o economista e consultor Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. “O Banco Central vem tendo um papel muito importante para organizar a economia neste início de governo. Isso não estaria acontecendo se sua autonomia não tivesse sido aprovada pelo Congresso”, afirma Pedro Jobim, economista-chefe da gestora de recursos Legacy Capital.

Além do papel decisivo desempenhado pela política monetária restritiva do BC, as quedas dos preços do petróleo e de commodities agrícolas, como soja, trigo e carnes de frango e bovina, no mercado internacional contribuíram para a desaceleração da inflação no País, assim como assim como a valorização do real em relação ao dólar e a safra recorde colhida no primeiro semestre.

2. Crescimento do PIB

Como no caso da queda da inflação, o resultado do PIB no primeiro trimestre do ano teve pouco ou nada a ver com o que o governo Lula fez na economia nos primeiros seis meses de governo, embora o governo, o PT e seus aliados procurem se apropriar do resultado. Ainda que o atual governo tivesse implementado medidas de impacto para turbinar o PIB, nem daria tempo de elas terem reflexos significativos no nível de atividade econômica no período.

ora tenha fechado 2022 com avanço de 2,9%, o PIB vinha perdendo força no fim do ano passado. No quarto trimestre, de acordo com o IBGE, o indicador apresentou uma queda de 0,1 % em relação ao trimestre anterior. Por isso, o avanço de 1,9% registrado pelo PIB no primeiro trimestre deste ano, puxado pelo agronegócio, que respondeu por quase 90% do índice, surpreendeu os analistas.
Com esse resultado inesperado, as estimativas dos economistas para o crescimento do PIB em 2023, que estavam em 1% em maio, deram um salto. Agora, a previsão é de uma alta de 2,2%, conforme o Relatório Focus, do Banco Central.

Fonte:https://www.estadao.com.br/economia/nove-fatores-estao-beneficiando-o-governo-lula-na-economia-veja-quais/