Mercado mostra divisão sobre início do ciclo de cortes na Selic, em agosto ou em setembro

O otimismo em relação aos ativos brasileiros, que deu as caras na semana passada, continuou a vigorar no pregão de ontem. Enquanto os agentes financeiros continuam a levar em consideração um cenário mais intenso de desinflação à frente, declarações de dirigentes do Banco Central mais construtivas com o processo desinflacionário ajudaram a sustentar uma nova rodada de valorização dos ativos domésticos.

Mais sensível às percepções sobre os rumos da política monetária, o mercado de juros exibiu forte reação aos sinais emitidos pelo Banco Central. A taxa do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,215% para 13,16% e, em prazos mais longos, a taxa do DI para janeiro de 2027 recuou de 10,79% para 10,555%. Assim, a curva de juros precificava a Selic em torno de 12% no fim do ano e mostrava uma divisão no mercado sobre o início dos cortes na taxa básica ocorrer em agosto ou em setembro.

A sensação entre participantes do mercado é a de que, nos últimos dias, ganhou força uma antecipação do início do ciclo. Declarações mais otimistas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, em torno de um cenário mais otimista de inflação ajudaram a derrubar as taxas futuras no pregão de ontem.

Os profissionais da Legacy Capital defendem que o ciclo de cortes na Selic pode ter início já em agosto, em um cenário que contempla, ainda, a manutenção do ponto central da meta de inflação em 3% e a continuidade dos sinais de desaceleração da inflação corrente.

O Morgan Stanley também divulgou ontem sua revisão de cenário e passou a ver um início do ciclo de redução da Selic em setembro. Antes, a expectativa do banco americano era que o juro básico só começaria a ser reduzido em dezembro. “A concessão de crédito mais fraca e um mercado de trabalho ‘de lado’ estão reduzindo a força da demanda doméstica, enquanto a redução da incerteza fiscal deve levar a uma reancoragem gradual das expectativas de inflação”, dizem os economistas Andre Loes e Thiago Machado.

O Morgan Stanley projeta a Selic em 12% no fim deste ano e em 8,5% no segundo semestre de 2024. E, em relação à inflação, a expectativa do banco é a de que o IPCA encerre 2023 em 5,6% e que chegue a 4% no fim do próximo ano.

Na medida em que o mercado de juros exibe um desempenho forte de descompressão de prêmios de risco, o Ibovespa busca espaço para seguir na tendência de valorização. Na sessão de ontem, o índice subiu apenas 0,12%, para 112.696 pontos, ajudado pelas ações da Petrobras e do Bradesco.

Sustentados pela alta dos preços do petróleo no mercado internacional, os papéis ordinários da Petrobras subiram 0,62% e os preferenciais avançaram 1,07%. Já as ações preferenciais do Bradesco encerraram a segunda-feira com alta de 1,81%, após o Credit Suisse mudar a recomendação do papel de “underperform” (equivalente a venda) para “neutra”.

O desempenho do Ibovespa só não foi mais forte porque, no exterior, as bolsas em Nova York se ajustaram em queda na sessão de ontem. O índice Dow Jones fechou em baixa de 0,59%; o S&P 500 recuou 0,20%; e o Nasdaq perdeu 0,09%. A queda de 0,76% dos papéis da Apple ajudou a puxar os indicadores acionários americanos para o vermelho. Além disso, os resultados mais fracos do setor de serviços em maio nos Estados Unidos também pesaram no humor dos participantes do mercado.

A sensação de que a atividade econômica dos Estados Unidos está em desaceleração se intensificou na sessão de ontem e derrubou a cotação do dólar em nível global. Por aqui, a moeda americana encerrou o pregão à vista negociada a R$ 4,9303, em queda de 0,46%.

Na leitura do gerente de câmbio da Tullett Prebon no Brasil, Italo Abucater, o diferencial de juros continua a dar apoio ao real. Ele lembra que o carrego deixa a compra de dólares cara e aponta que, se não houver nenhum ruído político adicional até o fim do ano, a moeda brasileira deve seguir no mesmo nível ou se valorizar um pouco mais. “A meu ver, o mercado já ‘comprou’ a ideia de corte de juros só a partir de setembro.”

Fonte:https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/06/06/juros-futuros-tem-nova-sessao-de-forte-queda.ghtml