Companhias de menor capitalização, as “small caps” superam o desempenho do Ibovespa neste mês

Confira o desempenho do Ibovespa hoje

Companhias de menor capitalização e liquidez  mais baixa – as chamadas “small caps” – superam o desempenho do Ibovespa neste mês. Como grande parte delas é ligada à economia local, esse grupo tem se beneficiado do viés mais construtivo que se viu nas últimas semanas para ações sensíveis à atividade e às taxas de juros, embaladas pela perspectiva de redução da Selic .

O índice Small Cap (SMLL) acumula alta de 5,67% em maio, acima dos 3,6% apresentados pelo Ibovespa. E esse desempenho, segundo gestores, pode se replicar no acumulado de 2023, levando o índice a superar o principal referencial da bolsa pela primeira vez desde 2019, quando avançou 58,22% ante 31,58% do Ibovespa. As companhias do segmento mais sensíveis aos juros vinham acumulando perdas desde o pico da bolsa em meados de 2021.

À época, lembra Werner Roger, diretor de investimentos da Trígono Capital, o país vivia um período de afrouxamento monetário, o que beneficiou a renda variável local como um todo e permitiu, inclusive, que a última janela de IPOs [ofertas iniciais de ações] da bolsa local se abrisse. “O ciclo de alta de juros que veio a seguir aumentou o custo de capital para as empresas e tornou a renda fixa mais atraente, o que penalizou os segmentos domésticos nas duas pontas.”

Entre os setores mais representativos do SMLL, o setor de construção, com empresas como MRV e EZtec, tem peso de 13,5%. Consumo e varejo respondem por 12,2%, divididos em papéis como Vivara e Grupo Mateus. Serviços públicos (“utilities”) representam 10,7%, com nomes como Sanepar. O segmento de indústria e bens de capital, com companhias como a Dexco, é responsável por 10,4%; logística, por 8,7%; e, no sexto posto, mineração, com 8,6%. No Ibovespa, a apenas Vale corresponde a 14,5% da carteira.

Tiago Cunha, gestor de ações da ACE Capital, afirma que há algumas condições para saber se as “small caps” continuarão a se destacar em relação ao principal índice da bolsa brasileira. Uma delas é saber se as commodities terão um desempenho pior em 2023 do que em outros anos, já que ações ligadas a matérias-primas são muito relevantes para o Ibovespa. Também é necessário que o ciclo de cortes de juros ocorra de maneira técnica, com a ancoragem das expectativas de inflação.

“Precisamos entender se o governo pretende viabilizar o fiscal dos próximos anos gastando menos ou arrecadando mais. A segunda opção indica a possibilidade de aumento de tributos, e essa carga pode ter impacto em alguns setores, como varejo, de forma a anular ou até tornar negativo o efeito final da queda dos juros”, diz.

Para Rodrigo Mello, gestor de renda variável na Tenax Capital, setores como o varejo já sofreram bastante com indicações de ampliação de carga, principalmente em relação às mudanças propostas na cobrança do ICMS. O executivo entende que, caso haja busca por mais arrecadação, a tendência é que isso ocorra em setores maiores, como financeiro e exportadoras. “O governo taxou o óleo bruto quando precisou”, lembra.

Segundo o gestor, o SMLL está muito atrás do Ibovespa e com base muito fraca. “Mas agora as empresas mais pesadas da bolsa não têm perspectivas tão boas e, se entrarmos num cenário de corte de juros, os papéis menores podem se beneficiar.”

Mello acrescenta que, em sua visão, a apresentação do arcabouço fiscal pelo governo e a adição, pelo Congresso, de medidas que garantam a aplicação da regra podem garantir que a reversão do ciclo da taxa Selic  comece no segundo semestre. Roger, da Trígono, compartilha da visão e ressalta que indicadores de inflação têm mostrado trajetória descendente consistente, o que reforça a narrativa de cortes na Selic nos próximos meses.

Até que isso ocorra, as empresas têm sofrido com o aumento das despesas financeiras, como mostra a temporada de balanços do primeiro trimestre.

Cunha, da ACE, diz que os números apresentados ao mercado nas últimas semanas não foram homogêneos, mas, como a indústria está pouco alocada em bolsa, bons resultados têm impulsionado as ações

empresas domésticas que estavam subalocadas. “Olhando para frente, como a atividade está surpreendendo para cima, fica uma sensação de possível melhora nos próximos trimestres. Mas, como temos um ‘lag’ [lacuna] entre a política monetária e a economia, acredito que os números podem piorar antes de melhorar.”

Mello, da Tenax, também enxerga resultados mistos, com empresas em trajetória ruim ampliando perdas e as mais resilientes se posicionando para capturar melhor a virada do ciclo de juros.

Fonte:https://inteligenciafinanceira.com.br/saiba/mercados/mercado-aposta-acoes-sensiveis-a-juros/