Professor toma como base os dados mais recentes coletados pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), que reúne analistas de diferentes instituições

Por Alessandra Saraiva, Valor — Rio

02/02/2023 12h38 Atualizado 02/02/2023

Especialista aposta em continuidade de expansão econômica moderadaRoberto Moreyra/Agência O Globo

O ano de 2023 apresenta sinais de continuidade de expansão econômica “moderada” no país segundo o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti. Ele fez a observação ao analisar os resultados mais recentes das análises feitas pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), do qual é integrante.

Os membros do comitê, pontuou ele, identificaram ocorrência de um “vale” (momento ruim) no ciclo de negócios brasileiro no segundo trimestre de 2020, ano em que a pandemia começou.

Mas o “vale”, observou, representou o fim de contração econômica que perdurou durante o primeiro e segundo trimestres de 2020; e sinalizou retorno do país à expansão econômica a partir do terceiro trimestre daquele ano.

O especialista disse que, mesmo com diferentes acontecimentos na economia nem sempre positivos nos anos de 2021 e 2022, é possível dizer que o Brasil se manteve em expansão econômica nesses dois anos, com possibilidade de estender isso em 2023.

Expansão moderada x recessão

“Está cedo [para fazer previsões]. Mas pelos sinais e as projeções de mercado até o momento, podemos dizer que estamos mais para continuidade de expansão moderada do que caminhando para recessão”, completou o professor da FGV.

Ao detalhar o porquê da divulgação somente agora de comunicado do comitê, com análise referente até o terceiro trimestre de 2020 – a última saiu em junho de 2020 –, o professor da FGV lembrou que o Codace visa estabelecer cronologias de referência para os ciclos econômicos brasileiros.

Esse tipo de análise demanda tempo e cuidado por parte dos pesquisadores. E, no caso da edição veiculada nessa quinta-feira (2), os especialistas tiveram que lidar com algo nunca visto na história recente do país: a análise de impacto, nos ciclos, de uma crise econômica originada de crise sanitária, com o advento da covid-19 no início de 2020.

“Realmente [ocorreu], uma série de impactos que dificultaram, e dificultam até hoje, análise cuidadosa de nível de atividade”, admitiu ele, afirmando que o comitê, no entanto, tem mais preocupação em avaliar de forma adequada a cadência da economia brasileira, do que veicular rapidamente uma análise. “Sempre privilegiamos datar [ciclos econômicos] com convicção e não datar rápido”.

Além de Picchetti, fazem parte do Codace Affonso Celso Pastore, diretor da AC Pastore & Associados; Edmar Bacha, diretor do Iepe-Casa das Garças; João Victor Issler, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da fundação (FGV/EPGE); Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia; Marco Bonomo, professor do Insper; Fernando Veloso, professor da FGV/EPGE e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre); e Vagner Ardeo, vice-diretor do FGV Ibre.

Ao falar sobre os sinais de retorno do país à expansão econômica a partir do terceiro trimestre de 2020, o especialista reiterou acreditar que esse fenômeno permaneceu, nos trimestres seguintes.

“Os anos de 2021 e de 2022 continuaram a ser anos complicados [na economia]. Mas não o suficiente para caracterizar recessão, nos moldes classificados como de queda generalizada em todos os setores da economia”, disse.

“Um exercício de previsão”

Ao justificar sua análise, o especialista reconheceu que em 2021 e em 2022 foram observados desempenho “não muito bons” em produção industrial e formação bruta de capital. Mas, por outro lado, o período mostrou forte expansão do setor de serviços, bem como manutenção de performance positiva no setor agrícola.

“Por isso, creio na tendência de expansão de atividade [nos trimestres posteriores após o 3º tri de 2020] presente depois desse ‘vale’ [nos primeiro e segundo trimestres de 2020]”, justificou.

Sobre 2023, o especialista voltou a destacar que a análise sobre a continuidade de expansão econômica moderada nesse ano seria mais “um exercício de previsão” com base nas informações até o momento. “Vamos ver como vai evoluir”, afirmou.