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Os dados econômicos recentes dos Estados Unidos estão fornecendo ao Federal Reserve uma permissão para cortar sua taxa de juros, enquanto os mercados financeiros e as autoridades do banco central norte-americano parecem alinhadas para o início do ciclo de afrouxamento monetário.

Com isso, o objetivo do chair do Fed, Jerome Powell, em seu discurso nesta sexta-feira no simpósio anual de Jackson Hole pode ser menos o de moldar ainda mais as expectativas e mais o de avaliar a situação da economia norte-americana antes do que ele chamou de primeiro passo “consequente”.

“Não acho que ele precise fazer muito além da coletiva de imprensa em julho”, disse Richard Clarida, ex-vice-chair do Fed, que agora é consultor econômico global da Pimco, referindo-se ao fato de Powell ter se inclinado fortemente para um corte de juros em setembro durante comentários aos repórteres após a reunião de 30 e 31 de julho.

“Você não terá uma declaração de ‘missão cumprida’, mas ele pode olhar para os últimos dois anos, onde estávamos e onde estamos, e reconhecer que eles estão perto” de conter o pior surto de inflação em 40 anos, disse Clarida.

Powell discursará às 11h em um alojamento remoto no Parque Nacional Grand Teton, no Estado norte-americano de Wyoming, durante um encontro que se tornou uma plataforma global para que autoridades de bancos centrais moldem as opiniões sobre política monetária e economia.

Com uma única exceção, os seis discursos que Powell proferiu no simpósio desde que se tornou chair do Fed em 2018 foram, em grande parte, explicativos, concebidos menos para influenciar as expectativas de curto prazo do que para expor como as autoridades estavam pensando sobre as principais questões estruturais ou, desde o início da pandemia da Covid-19, detalhando a mecânica da inflação.

A exceção foi em 2022, quando o Fed teve dificuldades para manter sob controle as expectativas do público em relação à inflação alta: Powell fez um discurso conciso e que movimentou o mercado com o objetivo de transmitir sua seriedade na defesa da meta de inflação de 2% do banco central dos EUA.

A inflação, que atingiu níveis nunca vistos em décadas na ocasião, dois anos depois está cerca de meio ponto percentual acima da meta. A taxa de desemprego, de 4,3%, está bem abaixo de sua média de longo prazo de 5,7%. E os mercados financeiros parecem estar em sincronia com a direção que o Fed está tomando.

Em vista disso, ex-membros do Fed, autoridades e analistas externos disseram que Powell pode muito bem voltar à sua norma explicativa, talvez esboçando em termos gerais como o banco central abordará seu próximo ciclo de afrouxamento ou aprofundando as lições aprendidas ao longo de dois anos sobre as causas e curas da inflação.

O tema do simpósio — como a política monetária afeta a economia — se encaixaria em ambos.

Como as autoridades do Fed, na reunião do próximo mês, atualizarão suas projeções de juros para este ano e 2025, Powell não desejará fornecer uma orientação detalhada sobre o que está por vir — um risco em si mesmo, devido à possível reação do mercado que isso poderia desencadear.

Em vez disso, Powell poderia fornecer alguns antecedentes para que o público e os mercados entendam como o Fed responderá à medida que a economia evolui, disse William English, um ex-membro do Fed e agora professor na Yale University.

“Digamos que a economia não esteja indo como esperamos. O que isso significaria para a política? O que será necessário para agir mais rápido ou mais devagar?”

Fonte: Terra