Reação dos mercados vai depender da resposta de Israel ao ataque iraniano. BC dos EUA deve ficar mais cauteloso e manter os juros ainda elevados
Os mercados financeiros estarão de olhos abertos com as tensões geopolíticas em foco. Está em jogo saber se o ataque sem precedentes do Irã a Israel no fim de semana vai desencadear retaliações por parte de Jerusalém.
Com os investidores já preocupados com a inflação americana persistente e a perspectiva de taxas de juros mais altas por mais tempo, a escalada da crise no Oriente Médio está prestes a injetar um novo momento de volatilidade quando as negociações forem retomadas.
Quando o Hamas atacou Israel em outubro, o maior medo de muitos agentes era que o Irã acabasse se envolvendo na guerra. Agora, à medida que o conflito se intensifica, muitos dizem que o preço do barril do petróleo poderia ultrapassar US$ 100, além de uma migração de investimentos para os títulos do Tesouro americano, ouro e dólar, alimentando mais perdas no mercado de ações.
O aumento da escalada das tensões já pode ter sido amenizado pelo movimento nos mercados na sexta-feira, em antecipação a um ataque. Além disso, o Irã declarou que “a questão pode ser considerada concluída”.
Um outro sinal de que o clima deve ser melhor é um relatório onde o presidente americano Joe Biden disse ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu que os Estados Unidos não apoiarão um contra-ataque de Israel contra o Irã.
– A reação natural dos investidores é buscar ativos seguros em momentos como este. Mas elas dependerão um pouco da resposta de Israel. Se Israel não escalar a partir daqui, pode fornecer uma oportunidade para comprar ativos de risco a preços mais baixos – disse Patrick Armstrong, diretor de investimentos da Plurimi Wealth LLP.
O Bitcoin deu um panorama do sentimento de mercado. A criptomoeda afundou quase 9% após os ataques de sábado, se recuperando neste domingo. A moeda voltou a ser negociada perto da marca de US$ 64 mil.
Os mercados de ações na Arábia Saudita e no Catar registraram perdas modestas sob volumes de negociação fracos. O índice de ações de Israel oscilou entre ganhos e perdas pelo menos nove vezes antes de fechar com um pequeno ganho.
– Os mercados do Oriente Médio abriram com relativa calma após o ataque do Irã, que foi percebido como uma retaliação medida, em vez de uma tentativa de escalada. No entanto, o impacto nos mercados pode se estender além da região devido a efeitos secundários sobre os preços do petróleo e da energia, potencialmente influenciando a perspectiva global de inflação – disse Emre Akcakmak, consultor sênior da East Capital em Dubai.
Os investidores agora devem ponderar o risco de um ciclo de ataques e contra-ataques, com muitos olhando para o petróleo como guia para como resposta. O barril do petróleo Brent já subiu quase 20% este ano e está sendo negociado acima de US$ 90.
Embora o conflito no Oriente Médio ainda não tenha tido impacto na produção, os ataques no Mar Vermelho pelos Houthis apoiados pelo Irã no Mar Vermelho têm prejudicado o transporte marítimo.
Investidores temem que um conflito mais amplo possa interromper os embarques de petroleiros do Golfo Pérsico pelo Estreito de Ormuz.
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Preocupações com a situação na região também têm refletido nos mercados globais. O S&P 500 está saindo de sua maior queda semanal desde outubro do ano passado, impulsionado pela inflação mais alta do que o esperado e ganhos bancários decepcionantes.
No mercado de títulos, os agentes devem entrar a semana ponderando o risco de que contas de energia mais caras impactem os índices inflacionários. Embora os títulos do Tesouro americano tendam a se beneficiar em tempos de incerteza, a ameaça de taxas de juros altas pode limitar os movimentos.
Enquanto isso, o ouro tem se destacado, ganhando 13% este ano para atingir um recorde acima de US$ 2.400 a onça. Os investidores também têm buscado a estabilidade do dólar americano. O dólar index subiu 1,3% na semana passada, a melhor performance desde o final de 2022.
– Nossos analistas de petróleo não veem muitos sinais de um prêmio do risco geopolítico nos preços do petróleo até agora. Esperamos que isso reflita as percepções de mercado de baixos riscos de escalada até agora. Este equilíbrio provavelmente será testado se o Irã e Israel continuarem a se atacar – diz Erik Meyersson, estrategista-chefe de mercados emergentes do SEB.
– Um novo ambiente de incerteza está se abrindo agora, mas o mercado já precificou parcialmente esta situação na sexta-feira, então se não piorar, o impacto não deve ser muito alto. O risco é se essa situação se escalonar e houver contágio na região – diz Gonzalo Lardies, gerente de fundos de ações sênior do Andbank.
– Nossa percepção é que os eventos no Oriente Médio aumentarão os motivos para o Fed adotar uma abordagem mais cautelosa em relação aos cortes de taxa – diz Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, em Londres.
Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/04/14/como-a-tensao-no-oriente-medio-deve-afetar-bolsa-dolar-e-juros-veja-o-que-dizem-economistas.ghtml